Marketing farmacêutico, regado por caipirinhas, grandes viagens, bons restaurantes e porque não repleto de idéias e comentários plenos de originalidade?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

E o próximo é......GE!

Pois é caros bloggers....Depois da compra da divisão de diagnóstico da DPC e da Bayer (com excepção da div.Diabetes) ambas pela Siemens (e notem aqui a origem: Alemã compra Alemã) ficou claro que o mercado iria reagir, sobretudo ao nível das grandes empresas mundiais com divisões de Diagnóstico por Imagem: GE e Philips não quereriam ficar atrás da Siemens. E porque nestas coisas a lógica tem sempre o seu charme, confirmou-se há cerca de 3 dias atrás a compra da divisão diagnóstica dos laboratórios Abbott (excepto as linhas de Diabetes e de Biologia Molecular) pela General Electric pelo singelo valor de 8,13 bilhões de US$. O que há aqui em comum com o primeiro negócio? Vejamos: um gigante mundial que aposta seriamente na área de cuidados de saúde compra a divisão de diagnóstico in Vitro de uma empresa farmacêutica. E depois a questão da filosofia empresarial de ambas as companhias envolvidas: as 2 são americanas e perfeitamente sincronizadas ao nível das culturas corporativas.
Podemos dizer que o epicentro do indústria de Diagnóstico in Vitro mudou em 2006 das multinacionais farmacêuticas para as gigantes mundiais com divisões de Diagnósticos de Imagem. A entrada destes novos players aponta, por um lado, o segmento de diagnóstico in Vitro, com um segmento de grande potencial evolutivo e por outro lado atesta o que já se tinha a certeza: para uma multinacional farmacêutica como Bayer, Abbott e Roche a divisão de diagnóstico raramente completa 20 - 25% da facturação total, mantendo ainda assim margens bem mais baixas e custos operacionais igualmente elevados.
Está claro que para as farmacêuticas o diagnóstico in vitro já perdeu o glamour e não é mais interessante. Mas todas as áreas de Diagnóstico in Vitro? Não...as unidades de negócio da Diabetes e da Biologia Molecular são verdadeiras pérolas que se guardam ao vender a ostra. Se no primeiro caso o volume de vendas e fabulosas margens são fundamentais, no caso da Biologia Molecular pelo futuro que aporta ao desenvolvimento de novos fármacos e novas formas de diagnóstico torna-se um activo com retorno seguríssimo a médio longo prazo.

E o futuro? Não creio que ainda seja desta que compraremos uma bola de crista. Essencialmente há 2 factos que construirão o futuro neste capítulo: uma das farmacêuticas com divisão diagnóstico comprará uma congénere e venderá essa divisão para financiar em parte a fusão ou a mesma farmacêutica poderá ser comprada e o novo comprador venderá seguramente a divisão diagnóstico por ser muito menos atractiva que a farmacêutica. Em todo este processo já temos uma lista de nomeados: do lado das farmacêuticas que mantêm divisão de diagnóstico em alerta laranja para venda temos: Roche (talvez a mais cobiçada do mundo), Johnson & Johnson e Menarini (das mais pequenas). Por outro lado, no outro pólo, temos os potenciais compradores destas divisões: a Philips (que seguramente se movimentará dentro em breve) e a LG que vem tentando trilhar um caminho entre Colossos.
Juntando as peças soltas por este post, temos: Roche (companhia Suíça) e Philips (companhia Holandesa); a Roche terá interesse em fortalecer a sua posição face às fusões entre farmacêuticas que lhe têm vindo a roubar market share e consequentes lugares no ranking (Sanofi+Aventis; Pfizer+Pharmacia; etc, etc) e a Philips tem todo o interesse em aumentar o seu portfólio de soluções de diagnóstico para se manter no mesmo patamar que GE e Siemens; a Roche tem muito interesse na Div.de Biologia Molecular e a Philips também.... Dá que pensar.

Assim, compactando com tudo isto podemos sonhar com :
1º Lugar: Roche e Philips
2ª Lugar: Philips e uma outra companhia de diagnóstico de capital aberto. Fala-se que neste caso poderíamos assistir a mais uma OPA hostil tão na moda...

Veremos as cenas dos próximos capítulos.

sábado, outubro 14, 2006

Fitoterápicos - Falta de Marketing ou de Mercado?

Há vários anos que o tema da Fitoterapia e fitoterápicos me causam um interesse tremendo. Algumas das dúvidas iniciais foram sendo plenamente respondidas ao longo dos anos: “será que a eficácia da fitoterapia está comprovada cientificamente?”; “fitoterapia é o mesmo que homeopatia?”. Neste caso sabemos já que a fitoterapia e acção de fitoterápicos está clara e pragmaticamente demonstrada e que a fitoterapia se distingue desde a sua génese da homeopatia (a fitoterapia continua a assumir como ciência básica os princípios da química e física clássicas enquanto a homeopatia, centrando-se no principio das diluições infinitesimais, se apoia em pressupostos da física quântica, como a “memória da água”).
Tudo isto parece realmente claro, no entanto uma nova questão torna-se pertinente: Os medicamentos fitoterápicos têm mercado? Podem ser trabalhados como medicamentos éticos ou OTC’s regulares? Qual o potencial de mercado que possuem? Podem ser introduzidos no mercado e seguidos recorrendo às ferramentas de marketing normais?
Em função de todas estas perguntas, resolvi recorrer a alguns conhecimentos antigos: monografias científicas, o projecto Pague de investigação científica que me fez estar em S.Tomé e Príncipe estudando parte da sua enorme flora endémica; e a algumas informações recentes: medicamentos fitoterápicos mais vendidos, respostas do mercado, histórias de sucesso, etc.

Em primeiro lugar, uma das componentes mais heterogénas na venda de fitoterápicos prende-se com as diferenças existentes na regulamentação de cada mercado. Neste ponto, Alemanha, França e Estados Unidos destacam-se como referências: nestes países princípios activos e extractos padronizados (leia-se princípio activo obtido directamente a partir de uma planta) são tratados da mesma forma. Já em Portugal, Espanha e Itália o cenário mostra-se tipicamente latino: ausência de regulamentação claramente definida e/ou incapacidade de fazer aplicar a regulamentação vigente, sobretudo na entrada de novos medicamentos no mercado.
Tomando como exemplo uma das plantas mais conhecidas: o Ginkgo biloba será fácil responder a todas as questões levantadas anteriormente. O princípio activo mais conhecido obtido a partir do Ginkgo biloba é o extracto padronizado EGb74, cuja composição documentada nas farmacopeias mais referenciadas é: 240 mg/g de flavonóides (glicósideos ginkgo-flavonas) e 60 mg/g de terpenóides (ginkgolidos e bilobalides) que são os ingredientes activos mais importantes deste extracto. Como propriedades farmacológicas comprovadas apresenta: capacidade anti-agregante plaquetária actuando sobre a PAF-1; a Comissão alemã E3, equivalente à FDA para produtos botâncios, aprovou o Ginkgo para o tratamento sintomático de compromissos de concentração, memória e a sua prescrição para a insuficiência cerebral associadas à condições geriátrica. O extracto EGb 761 é também extremamente utilizado como OTC nos E.U.A, como vendas extremamente apelativas.
Depois de tudo isto, é fundamental saber quanto poderá valer a venda de medicamentos à base do extracto padronizado EGb 761 de Ginkgo biloba: os laboratórios IPSEN têm um portfólio bem interessante de produtos, onde se insere o Tanakan® (EGb 761), e em um dos seus relatórios podemos ler o seguinte: “In the cognitive disorders area, sales grew 6.1% to €31.9 million in the quarter ended 31st
March, 2006, compared with €30.0 million for the same period a year earlier. The regained sales momentum of Tanakan® experienced last year continues to drive this growth, in particular outside France, in the context of a declining market. Tanakan® sales reached €31.9 million at the end of the first quarter of 2006, representing a growth of 6.1% compared with the first quarter of 2005. This good performance resulted from strong sales in the first quarter of 2006 in China and Eastern Europe, whereas in France, which represented 70% of the total product sales during this quarter, sales of Tanakan® grew by only 2.9% in a declining market.”
Deixando quiçá o melhor exemplo para o fim, o Taxol (Paclitaxel®) da BMS, um dos medicamentos “milagrosos” que curaram, entre outros, o ciclista Neill Armostrong de uma neoplasia de testículo, começamos a tomar a dimensão do gigantesco potencial da fitoterapia. O Paclitaxel® - é obtido através da planta Taxus baccata (nome dado à espécie na Europa), Taxus brevifolia (América do Norte) ou Taxus yunnanensis (China). Em virtude do seu potencial comercial para a BMS, este medicamento tem sido o epicentro de lutas comerciais e de marketing homéricas! Desde o inicio do ciclo de vida do produto, a BMS foi capaz de comprar Taxol a US$0,25/mg (análogo sintético obtido já sem recorrer à planta como matéria prima). Experts da indústria farmacêutica afirmam que o Taxol em bulk pode ser preparado para uso humano por menos de US$0,15/mg, para um total de US$0,4/mg do produto acabado. A BMS afirma que nessa mesma altura vendia o Taxol no mercado a US$4,87/mg!!!!! Este facto desencadeou uma luta titânica do estado norte-americano contra a BMS já que a matéria prima poderia ser produzida facilmente por indústrias governamentais, a um custo tremendamente mais baixo para o estado, levando a uma redução extrema nos custos dos tratamentos oncológicos que recorressem ao taxol.
Como resposta às diversas tentativas do estado americano em quebrar o monopólio da BMS, esta farmacêutica requereu ao FDA que o Taxol fosse classificado como Fármaco-órfão (utilizado para tratar doenças órfãs) no tratamento do sarcoma de Karposi. A estratégia seria conseguir que o período de patente passasse dos 5 anos para os 8 concedido excepcionalmente aos fármaco-órfãos, bloqueando a entrada de genéricos no mercado….fica claro aqui de como o marketing farmacêutico é feroz e seguro na defesa também das “moléculas de origem fitoterápica”
As vendas do Taxol (Paclitaxel) fora dos EUA em 2004 foram de 991 milhões de dólares, ano em que já se sentiu concorrência dos genéricos na Europa.
Se às vendas do Paclitaxel® somarmos as obtidas pela Sanofi-Aventis com o Taxotere® (Docetaxel) que em 2004, apenas nos EUA, vendeu 940 milhões de dólares ficamos com uma ideia do potencial estrondoso das nossas plantas Taxus sp.
Para além destes medicamentos, existe também a famosa Cloroquina, anti-malárico considerado no passado a referencia no tratamento desta hemo-parasitose, obtido a partir das Chinchona sp; a Artimisina (antimalárico recente retirado a partir da Artemisia annua), os antineoplásicos Vincristina e Vimblastina retirados a partir do Catharrantus roseus; a morfina e outros opiáceos retirados da Papaver somniferum, só para dar rápidos exemplos da transversalidade da aplicação da fitoterapia na indústria farmacêutica. Todas estas e outras plantas estudadas perfazem apenas 25% de todas as espécies existentes no mundo, assim, poderemos sonhar com tudo o que poderá estar escondido nos restantes 75%.
O Marketing terá sem dúvida um trabalho glorioso nesta área e com recompensas fabulosas. Será no entanto fundamental manter presente de que se trata de explorar e como tal gerir um património mundial ímpar, muitas vezes ameaçado de extinção. Ao nível da responsabilidade social será fácil conciliá-la com o interesse de descobrir e explorar novas florestas tentando descobrir novos blockbusters: a biodiversidade está mais concentrada nas regiões mais carentes do Mundo: sudeste asiático, continente africano, floresta amazónica, etc. Está criada uma óptima oportunidade para que o marketing crie o link entre os interesses da indústria farmacêutica e o crescimento sustentando de muitos países que terão na exploração/produção de fitoterápicos a sua sobrevivência digna.
Ao marketing caberá o trigger de buscar na fitoterapia novas e concretas oportunidades de negócio, proporcionando às multinacionais a chance de se projectarem como instituições de consciência social distinta de todos as outras.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Cenas dos próximos capítulos

Caros amigos, deixo aqui os temas dos meus próximos posts. Quem se quiser adiantar é muito bem vindo!

- Marketing & Malária
- Doenças orfãs- Haverá mercado?
- Marketing Farmacêutico Vs Comunidade Médica Vs Genéricos Vs Medicamentos de marca (todos contra todos!!)
- C.R.M na indústria farmaceutica - Onde está o gargalo da garrafa?

- Medicamentos Fitoterápicos - Falta de Mercado ou de Marketing?

Aquele abraço !!!!

segunda-feira, agosto 14, 2006

Fuuuuuuuuuuuuuuuuuusãoooo!

Após a divisão de saúde/diagnóstico pesado da Siemens ter comprado a Bayer Diagnóstico (menos a divisão diabetes) ficam algumas questões no ar. Em primeiro lugar há algum tempo que se fala da venda das divisões diagnóstico das empresas que estão também no mercado do medicamento: o Abbott tem, ano após ano, saído em reportagens como estando possível vendedor da área de diagnóstico; a Bayer Diagnostics (após quedas importantes no seu market share mundial) idem e finalmente a Roche que se mantém em estranho silêncio. Quanto à Bayer, não deixa de ser uma interessante coincidência que logo após a compra da Schering tenha feito um acordo com a Siemens para a compra da divisão Diagnóstico (com excepção das diabetes!!)....creio ter sido mais do que uma mera simpatia linguística. Imagino que o Abbott Diagnostics (que tem vindo a estar abaixo das expectativas) siga invariavelmente o mesmo caminho sob pena da divisão diagnóstica começar a atrasar em demasia possíveis fusões/aquisições do Abbott farmacêutico. No topo da cadeia hierárquica surge a Roche que atravessa, na minha opinião, um capítulo interessante, definido por uma brilhante frase brasileira: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Assim, futuramente não me admiro se a Roche Farmacêutica surgir envolvida em algum negócio. Neste possível cenário de "comprar ou ser comprada" creio que a Roche apenas fará questão de manter a área de diabetes (devido à excelente implementação sobretudo a nível do canal farmácia) e de biologia molecular (uma das áreas mais promissoras), acabando por abrir mão de todo o resto da divisão Diagnostics: é importante lembrar que grande parte dos equipamentos que a Roche coloca no mercado resulta de parcerias de distribuição com outras empresas (como a Toa-Sysmex na Hematologia) ou de acordos de aquisição de equipamentos em O.E.M (o gasímetro Omni C e julgo que os equipamentos Coagu-Check e o Cardiac-Reader também). O mais interessante é verificar que ao nível da Siemens que consegue agora ser o único player na área de diagnóstico capaz de fazer propostas “gigantescamente globais” nesta área, temos também a Phillips, a GE Health Care e a LG que começa agora a entrar timidamente...Seguramente que nenhuma destas grandes empresas ficará parada e dentro de algum tempo iremos assistir a fusões/aquisições surpreendentes...ou não!

domingo, agosto 13, 2006

INTRO - até porque tudo tem um começo!

Ilustríssimos companheiros, na sequência de algumas conversas de copos, surgiu a ideia de agitar um pouco o marasmo bolorento a que se limita o marketing farmaceutico em Portugal. Fui a algumas reuniões da MarkInfar e achei que havia mais espaço para o snobismo do que para acções e atitudes verdadeiramente proveitosas.
Como é sempre mais fácil criticar do que fazer, acho que aqui poderá ser o começo de algumas grandes ideias.
Contribuam com comentários, posts, ideias.....enfim - total liberdade creativa.
Espero que possamos fazer deste espaço um ponto de encontro sem fronteiras, que ligue S.Paulo a Lisboa, Porto a Barcelona, passando pela gloriosa região da Ásia-Pacífico, aproveitando o que a globalização tem de melhor. Será um espaço para discutirmos assuntos interessantíssimos como a "Liofilização hipertrópica de protões" e a melhor forma de lhe vestir um interessante MKT Mix.
Apareçam por aqui!!!

P.s - AMAFARMA quer dizer Associação de Marketing Farmacêutico......nunca se sabe o dia de amanhã!!